Luiz Renato de Oliveira Périco (1983 – Jacarezinho/PR) vive em São Paulo/SP. Tem poemas publicados em antologias e em revistas literárias. Em livro, publicou Forma Amorfa (1ª edição: Viv Editora, 2021; 2ª edição [Kindle] do autor, 2022), e kairós (Patuá, 2023), do qual fazem parte os poemas publicados.
Há pó sobre os meus livros
Os lidos e os não lidos
Há pó sobre a estante
E sobre a escrivaninha
Há pó sobre os móveis
Imóveis no escritório
E vê-se à contraluz
Que há pó até no ar
Passo o dedo na mesa
E desenho uma linha
Esse pó no meu dedo
É sua vida e é a minha
kanjis e flores –
a moça tatuada
é um sumi-ê
O’HARIANA
tomar uma Coca-Cola® sem você não é nem de longe a mesma coisa
cada centavo conta cada segundo conta cada centímetro conta cada migalha
conta cada olhadela conta cada grama conta cada grão conta cada triz conta
cada bit conta cada pixel conta cada fio conta cada gota conta cada fresta
conta cada neco conta cada gole conta cada peça conta cada pedaço conta
cada caco conta cada ponto conta a vida é um grande por pouco
IMAGO DEI
Eu vejo a Imago Dei na face do mendigo
Cuja pobreza apenas suja sua beleza
Eu vejo a Imago Dei na face do inimigo
Sua inimizade não é a sua natureza
Eu vejo a Imago Dei na face do bandido
Sua pena apenas pune a sua dignidade
Eu vejo a Imago Dei na face do vencido
Sua derrota não o derrota de verdade
Eu vejo a Imago Dei nas faces machucadas
Nas faces escarradas, faces rejeitadas
Nas faces descompostas, faces escondidas
Eu vejo a Imago Dei nas faces mais estranhas
Moldada não nas faces, mas em suas entranhas
Eu vejo a Imago Dei em suas faces perdidas
Fotografia: Panorama de parte do bairro de Botafogo – Marc Ferrez (Coleção Gilberto Ferrez/Acervo Instituto Moreira Salles).